POR QUE AS CRIANÇAS ABRIGADAS DEVEM SER PREPARADAS PARA A INSERÇÃO NA FAMÍLIA ADOTIVA? 
Há  um consenso de que as pessoas que adotam necessitam de preparação para  as especificidades da família formadas através da adoção. Maior ênfase  se dá ainda, à necessidade de preparação dos adotantes no caso de  adoções tardias, ou seja, das adoções de crianças de mais de dois anos  de idade. Em eventos ligados a adoção o tema é debatido, assim como,  podemos encontrar várias publicações sobre adoção tardia que enfatizam a  necessidade de preparação dos futuros pais. 
Os inúmeros e lamentáveis  casos de devoluções de crianças são contundentes e inquestionáveis  provas dessa necessidade. Embora poucos juizados, abrigos, e grupos de  apoio à adoção possuam um programa sistematizado de preparação de  habilitados para a adoção tardia, há uma preocupação em preparar, mesmo  que precariamente, os futuros pais. Entretanto, pouco se publica, ou  mesmo se debate, sobre a necessidade da criança abrigada ser preparada  para a inserção na família adotiva, como se o sucesso da formação desse  tipo de família dependesse somente do adotante. Talvez esse tipo de  pensamento esteja fundado na idéia de que os pais são adultos, e os  únicos responsáveis pelo comportamento da criança, e pelo rumo da  família, porém, essa perspectiva só tem sentido em termos jurídicos, já  que não se apóia na realidade das interações humanas. A adoção tardia é  um encontro de imensas expectativas, e na maioria das vezes, de enormes  carências também.
Aqui o foco será a necessidade de preparação da  criança abrigada, que vemos como importantíssima, e tão mais importante  quanto mais idade tenha, e assim, mais história pessoal, e uma bagagem  de decepções em sua experiência com o relacionamento humano. Entretanto,  é fundamental que essa preparação não se confunda com nenhum tipo de  terapia, e que os técnicos responsáveis tenham clareza de seus  objetivos, e um roteiro focado em questões pertinentes. Não devem  pré-estabelecer que o melhor para a criança ou adolescente é ser adotada  por aquela família, um equívoco freqüente, e fazerem um trabalho  apressado e carregado de ansiedade, tentando influenciar a criança com o  temor de que a família desista da adoção. Essa preparação deve ser  feita através de entrevistas individuais com a criança, e em entrevistas  em conjunto com os futuros pais e a criança, introduzindo assim, um  canal de comunicação e intimidade entre pais e filhos.
Parece-nos que  preparar uma criança para adoção, é estimular a reflexão da criança  sobre suas expectativas em relação à família com quem irá viver; seus  temores e esperanças em relação à nova vida; sobre a família que  idealiza e a família real; investigar como percebe as regras familiares e  os direitos de cada membro da família; mostrar que na vida em família,  adultos e crianças têm obrigações e regras a serem obedecidas. Também  consideramos importante que as experiências de separação, e de rupturas  tenham um espaço no trabalho a ser desenvolvido com a criança,  explorando seus sentimentos de lealdade em relação à família de origem, e  de como sente a perda do poder familiar por parte de seus pais  biológicos, assim como, seus sentimentos em relação à separação dos  amigos, e dos cuidadores do abrigo – o seu lar até então. É através  dessas e de outras questões, trabalhadas de acordo com a idade da  criança, que a mesma será introduzida, subjetivamente, na vida familiar.
Preparar  as crianças abrigadas para a família adotiva é uma atribuição da equipe  técnica dos Juizados, e dos Abrigos, cabe aos pais adotivos solicitar e  acompanhar a preparação de seus filhos, com a consciência de que o  sucesso na formação de uma família através de uma adoção tardia está  fundamentado no amor, mas que somente amor e boas intenções, não bastam.
Fonte: GRUPO DE APOIO À FAMÍLIA E À ADOÇÃO DE PETRÓPOLIS
 
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